O que você faria senão tivesse medo?

01. Organização

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Desde a inscrição percebi que era uma prova diferenciada, toda a comunicação foi clara por e-mail e pelo App da Zurich.

A retirada do kit foi tranquila, apesar de eu não falar espanhol, vários atendentes falavam inglês e me ajudaram quando não estavam localizando o meu número de peito.

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02. Locomoção 

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Fiquei hospedada em um Airbnb próximo a uma Estação de Metrô, na Zona Oeste de Barcelona, e utilizando o transporte público cheguei rapidamente ao meu acesso para a largada. No dia da prova não havia gratuidade de transporte para os atletas, como já vi em algumas cidades. As saídas estavam identificadas nos mapas disponibilizados no kit e desci exatamente em frente ao meu pelotão.

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03. Largada 

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A Maratona começava às 8h da manhã e apesar de nesse período do ano o Sol nascer um pouco mais tarde, eu particularmente achei o horário um pouco tarde, o meu pelotão largou somente às 8h51 (era o horário previsto e não houve atraso). 

A largada foi muito organizada, havia bandas, muita animação, os comércios locais que estavam abertos recebiam os atletas para usar o banheiro, como uma opção aos banheiros químicos (Starbucks me salvou!). Foi surreal a energia de 30 mil pessoas ali se preparando para o início de um sonho. Eu tive a oportunidade de conversar com uma moça da Hungria que faria a sua primeira Maratona, foi emocionante abraça-lá para desejar boa prova. 

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04. Clima e Percurso

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A prova ocorreu em 10 de março de 2024, final de inverno, então o clima estava agradável. Começamos a 11 graus e foi subindo durante a prova. Corri com manguitos e luvas, mas logo tirei as luvas porque senti calor.

O percurso é incrível, passa por grandes pontos turísticos de Barcelona, tendo como ponto alto a Sagrada Família por volta do km 14. Nesse momento é impossível não se emocionar, todos corredores batiam palmas e gritavam. É como encontrar com Deus durante a prova.

O percurso é quase todo plano, com trechos de leve inclinação, mas no geral bem controlável. Há torcida do início ao fim, realmente a população vai para as ruas incentivar e torcer. Eu que corri com a camiseta do Brasil ouvi diversas vezes o nome do meu país. Essa foi uma idéia que tive quando corri a Maratona de Funchal na Ilha da Madeira e deixo como dica para outros corredores: correr com a camiseta do Brasil me trouxe uma sensação de pertencimento e representatividade.

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05. Estrutura durante a prova

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Nos primeiros kms havia água a cada 5km, depois percebi que os intervalos diminuíram e arriscaria dizer que no máximo a cada 4km havia um ponto de hidratação. A partir do km 20 começaram a oferecer isotônico e intercalaram com frutas como banana e laranja cortadas. Percebi também pontos com gel de carboidratos, mas como em provas eu só uso os que eu levo, por já ter testado antes, optei por não consumir o que era oferecido na prova. Eu me hidratei em todos os pontos, mesmo que tomando apenas um gole de água ou isotônico e também consumi a laranja todas as vezes que foi oferecida. era como se meu corpo pedisse pela vitamina C! Dessa forma consumi apenas 3 géis que levei, sobrando ainda um.

Vi vários pontos com banheiro químico, ambulâncias e realmente vi pessoas sendo resgatadas e socorridas durante a prova. 

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06. A maratona começa no km 30!

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Realmente, a maratona começa no km 30... nunca tive tanta certeza! 

Eu corri os primeiros 22km da prova com o pelotão SUB 4, grudei nos "liebres"e fui o mais longe que consegui. Eu com os meus 1,62cm corri num pelotão majoritariamente masculino, com homens muito maiores do que eu, e se por um lado me davam cotoveladas e chutes na canela sem perceber (sim, levei vários e fiquei com algumas marcas roxas, e sem nenhum drama sei que nada foi intencional, pois a prova estava cheia e o pelotão corria muito próximo, assim como eu, os próprios corredores homens também tomavam algumas cotoveladas), mas por outro lado eles me protegiam do vendo contra que vinha em alguns trechos, o que me ajudou.

A média para terminar uma Maratona abaixo de 4 horas é correr num Pace médio de 5:35 por km (tempo que um corredor demora para correr 1km), percebi que nos km 18, 19, 20 as médias estavam em 5:10 - 5:15, que para mim era forte, então no ponto de água do km 22 optei por seguir o meu ritmo. Segui ainda forte até o km 28, porém comecei a sentir fortes câimbras no vasto medial das duas pernas. Esse é o bendito músculo que fica logo acima do joelho na parte interna, final do quadríceps. Senti o mesmo na maratona da Ilha da Madeira e acho que o clima frio me desencadeia essas câimbras. Daí em diante precisei parar algumas vezes. 

As pernas não respondiam mais, simplesmente travavam de uma forma que não era possível andar. Com calma eu parava, respirava, alongava com muita dor e voltava pro jogo. Diversas vezes eu olhei o entorno e o sentimento de gratidão por estar vivendo tudo aquilo, naquela lugar mágico, me dava forças para continuar. Eu estava voltando de uma lesão e a dor era esperada.

Orei, falei com Deus e terminei a prova segurando os 14km com o coração. 

Nessa prova eu vi coisas que ainda não tinha visto. A partir do km 30 vi muitas pessoas caindo de dor por câimbras, pessoas choravam, se ajudavam, vi pessoas desmaiadas, médicos carregando corredores, vi pessoas correndo que tinham feito as suas necessidades "nas calças", o famoso deu merda durante a prova. Foi intenso, diferente e me mostrou que cada um estava ali ultrapassando o seu limite. E maratona é isso, é você elevar o seu corpo e sua mente a patamares nunca alcançados. A dor é inevitável, mas a sensação da conquista quando você cruza a linha de chega é INESQUECÍVEL.

Terminar os 42km no Arco do Triunfo foi sublime, eu não pude conter a emoção, eu gritava, chorava, ria e ali foi tirada a foto mais linda de toda a minha vida de corredora. 

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